“Como qualquer cidadão a pandemia da Covid-19 trouxe muitas lições e mudou de forma definitiva a todos e muitos conceitos foram e serão revistos pela humanidade agora e nos próximos anos impactando muito as próximas gerações”. As colocações são do médico infectologista que atende junto ao Hospital e Maternidade Oase de Timbó, doutor José Amaral Elias.

Em entrevista Elias afirma que “como profissional de Saúde e, principalmente como especialista em doenças infecciosas apesar de já vivido uma experiência com outra pandemia no começo de carreira (AIDS), nada se compara com a intensidade de emoções e aprendizado que estou vivenciando agora com essa pandemia”.

O especialista relata que “o começo foi assustador, não só pelo medo em si da doença, mas pela quantidade de vezes que dizia não sei o que fazer frente ao desconhecimento enorme que todo mundo tinha até então. Junto com todas as equipes do Hospital e Maternidade Oase assumimos o desafio de ser unidade exclusiva para atendimento da Covid-19. No começo, abril de 2020, então com poucos pacientes chegou a dar a impressão que a tormenta não chegaria até nós. Mas infelizmente chegou e chegou em duas ondas avassaladoras principalmente a segunda em 2021 quando muitos, na qual me incluo, já estávamos exaustos”.

Elias observa que “sempre refiro que só dimensiona com exatidão o que foi de fato e está sendo essa pandemia, o que de sofrimento ela trouxe além é claro daqueles muitos que perderam entes próximos e queridos e os próprios pacientes graves, é quem teve a experiência de trabalhar dentro de um salão de UTI com pacientes Covid-19 graves. Além da grande carga de trabalho, o longo tempo de permanência dos pacientes na UTI (chegamos a ter paciente mais de 100 dias internado) era conviver com grande o número de mortes diariamente na fase mais crítica da pandemia”.

O que fez a diferença?

O profissional observa que “como falei no início desse texto, as experiências dessa pandemia já vêm trazendo e trarão muitas lições e mudanças na humanidade. É o trabalho em equipe e nesse ponto tenho que agradecer e reforçar a grande importância e luta de todos os profissionais de Saúde envolvido nessa grande batalha. No caso do Hospital Oase todos os intensivistas de forma incansável na organização e apoio além de todo o corpo clínico que se mobilizou e assumiu plantões no momento mais crítico para não deixar ninguém sem assistência. Todas as equipes de enfermagem que fazem, sem dúvida alguma, o trabalho mais pesado no dia a dia de uma UTI. A equipe de fisioterapia sempre importante, porém, numa doença com o comprometimento pulmonar tão amplo teve papel crucial e ajudou e está ajudando a salvar muitas vidas”.

O especialista destaca ainda que “com o grande estresse gerado e mantido e a sempre difícil comunicação com familiares nessas situações críticas e prolongadas, a atuação competente da psicologia fez toda a diferença. Outra presença marcante e determinante foi a equipe de farmácia mesmo com a crise de falta de materiais e, principalmente de medicamentos, não poupou esforços na busca de alternativas. Pacientes tão graves e que permanecem por longo tempo em intubação, além do uso de outros cateteres e sondas, o risco de infecções por bactérias aumenta dia a dia, por isso, então a diferenciação das bactérias envolvidas e melhor opção de antibiótico a usar nesses tempos de resistência bacteriana, neste sentido de extrema importância foi e é o apoio que o nosso laboratório de microbiologia vem prestando”.

O médico destaca ainda que “aspecto de grande diferencial na estabilização desses pacientes é o adequado equilíbrio nutricional de acordo com a fase da doença e sua evolução nos cuidados e nisso nossa equipe de nutricionistas, sempre presente, cumpre muito bem seu papel”.

Elias afirma que “a interação entre todas essas equipes citadas sempre aconteceu desde o início das atividades da UTI no Hospital e Maternidade Oase, em 2017, e de forma diária à beira do leito nas visitas multidisciplinares. Mesmo no ápice da pandemia isso foi mantido permitindo e possibilitando assim muito mais segurança a todos os pacientes atendidos e assertividade maior de todos os profissionais envolvido. Todas as outras equipes de apoio como a da limpeza, higienização, da cozinha, da manutenção, da recepção, os motoristas, da segurança e todos os níveis do setor administrativo são peças tão importante como os profissionais de atuação direta com os pacientes”.

O especialista destaca ainda que “concomitante a esse desafio assumido pelo Hospital e Maternidade Oase em 2020 o serviço também passou a ser local de treinamento de médicos com a implantação da residência em clínica médica por dois anos com duas vagas anuais e, esses médicos residentes pioneiros tiveram uma participação excelente com seu envolvimento com o aprendizado e trato aos nossos pacientes. Enfim mais uma vez a grande lição e mensagem é que o envolvimento e a interação humana, ainda mais nos momentos críticos, são a base para a superação”.