A varíola do macaco
Definitivamente qualquer infectologista, ainda mais nos últimos anos, não tem tido qualquer tipo de tédio ou monotonia. Quando depois dos grandes desafios da Covid com suas ondas assustadoras pareciam, ao menos em relação às mortes, estarem aliviando, de repente em maio último na Europa é detectado um vírus raro se espalhando de maneira muito rápida e transmitindo de forma ainda não totalmente esclarecida, acende as luzes de alerta para toda a humanidade novamente.
É a Varíola do Macaco ou Monkeypox. Não se trata de uma doença nova já que o vírus fora descoberto em 1958 na África entre os macacos, apesar de não serem exclusivos deles pois alguns roedores também podem adoecer. Em 1970 detectado também em seres humanos e notificados casos esporádicos fora do continente africano como por exemplo em 2003 nos Estados Unidos.
O vírus é um parente próximo da varíola, doença que por ser bem mais agressiva e mortal, felizmente fora considerada erradicada da humanidade oficialmente em 1980 graças a principalmente à vacinação. Só para se ter uma noção a mortalidade da varíola era em torno de 30% já da varíola do macaco é em torno de 3%.
Nesse surto tudo começou com o primeiro caso no dia 7 de maio em Londres. Até aí nada de muito anormal já que esse caso era de pessoa que tinha estado na Nigéria país onde a doença é endêmica desde 2017. Porém já dia 14 dois novos casos foram notificados no Reino Unido e aí começou a preocupação já que nesses casos as pessoas não tinham viajado para áreas de ocorrência da doença e muito menos contato com o primeiro caso detectado dia 7. O alerta passou para vermelho quando nos dias seguintes outros países europeus começaram a detectar casos, como Portugal e Espanha e, mais preocupante ainda os Estados Unidos notificou um caso e depois o Canadá e todos também sem histórico de viagens para a Nigéria. Até já chegou bem perto daqui com 2 casos confirmados na Argentina e por aqui no Brasil nenhum caso ainda confirmado, porém já com 4 suspeitas uma delas inclusive aqui em Santa Catarina. Portanto confirmados chegamos até agora dia primeiro de junho são 909 casos no mundo. Felizmente sem nenhum caso grave e muito menos, é claro, óbitos.
Mas o que se sabe dessa doença então? Há muitas interrogações sem respostas ainda porque a forma de transmissão tem se apresentado diferente do que até então se conhecia. Um dos fatores é que muitos dos casos estão se concentrando num grupo de pessoas que são os homens que fazem sexo com homens. Apesar de não haver nenhuma comprovação de ser uma infecção de transmissão sexual. O que se sabe é que a transmissão não é tão simples e rápida como a da Covid, por exemplo, pela forma respiratória e contato rápido. Sabe-se que a principal forma de transmissão é pelo contato direito com fluidos e secreções de lesões e até respiratórias, mas dependendo de um contato mais prolongado e demorado.
Clinicamente a doença também tem se manifestado um pouco diferente dos casos ocorrido na África. Lá normalmente seguia uma evolução com início de febre e ínguas no pescoço e em torno de 1 a 3 dias surgindo manchas e depois as bolhas primeiramente na face e evoluindo para outras partes do corpo. Na Europa e nos Estados Unidos os casos têm iniciado primeiramente com as lesões e depois vem os picos de febre e as ínguas. A maioria também com lesões primeiramente na face e depois se espalhando por outras partes do corpo, porém em alguns casos como um ocorrido em Massachusetts nos Estados Unidos as lesões iniciaram primeiramente nas regiões anal e genital para posteriormente se disseminar pelo corpo.
Também não temos ainda uma vacina específica para esse vírus mas uma das vacinas usada contra a varíola apresenta indice de proteção para esse virus em torno de 85%. Lembrando que essa vacina e uma outra usada para a varíola só estão disponíveis atualmente nos Estados Unidos já que por aqui e o resto do mundo a vacinação foi abolida após a doença ter sido erradicada como já dito em 1980. Lá, por medo do bioterrorismo, eles vacinam alguns grupos de pessoas como, por exemplos as forças armadas. Não há, também qualquer medicameno específico para tratamento.
Enfim ainda é muito cedo para maiores previsões, porém vários autoridadade e órgãos oficciais de saúde tem afirmado que pelas caracteriscas de transmissão da doença a chance de mais uma pandemia é muito pouco provável.
Então aguardemos maiores informações e análises da evolução desse surtos e ficamos atentos em casos de pessoas com sintomas sugestivos procurem imediatamente atendimento médico.
Texto: médico infectologista do HMO, José Amaral Elias.